Morro Branco e a incrível arte com areia

Se estivesse caminhando em uma praia e se deparasse com uma frase escrita na areia, viesse um pescador e dissesse que aquilo foi obra do acaso, você acreditaria nele? E se ele dissesse que foram milhões de anos de vento soprando e ondas batendo, até que as partículas de areia fossem organizadas daquela forma? Aí você acreditaria? Acho que não, né? Isso porque todo mundo sabe que informação não surge do nada; depende de uma fonte informante. E se isso é verdade com uma simples frase escrita na areia, o que dizer de uma obra de arte que tem paisagens, casas, pessoas e inscrições? Esse tipo de arte complexa e incrível pode ser encontrada no litoral cearense, na praia de Morro Branco, no município de Beberibe, a 80 km de Fortaleza.

Antes de chegar até o Labirinto das Falésias, nosso objetivo nessa viagem, fizemos um passeio de buggy com direito a banho de mar e à contemplação de paisagens lindíssimas em praias paradisíacas e quase desertas. Saímos da praia de Uruaú e passeamos por cerca de duas horas. Passamos pela pequena Praia do Diogo e chegamos até a Praia das Fontes, onde há algumas grutas. A maior delas é a Gruta da Mãe D’água, esculpida pelas águas e belamente iluminada pelos raios solares. Aliás, sol é o que não falta nessa região do Brasil próxima à linha do Equador e repleta de praias de águas esverdeadas e temperatura agradável.

Da Praia das Fontes fomos para as famosas falésias avermelhadas que formam labirintos naturais erodidos na rocha porosa. O cenário é de tirar o fôlego e já foi utilizado como locação para filmes e séries, e é dali que eram extraídas as areias coloridas com as quais os artesãos locais produzem suas famosas garrafas com arte em areia. São mais de dez tipos de cores determinadas por substâncias como ferro, manganês e outras. O verde do mar e o tom avermelhado das falésias formam um quadro realmente muito bonito. O nome Morro Branco vem de uma duna branca e alta de onde se pode ver o lindo pôr do sol na região.

Caminhar pelos labirintos das falésias é uma experiência realmente interessante e logo na entrada do parque é possível comprar lembrancinhas feitas com areias da região, não mais do Parque das Falésias, pois são área de preservação.

Na vila próxima ao parque é possível encontrar artesãos como a senhora Maria José, que aprendeu a arte da silicografia com um tio. É o tipo de artesanato que passa de geração para geração. Faz mais de trinta anos que Maria trabalha com as areias coloridas e consegue fazer até cem garrafinhas por dia.

Se você encontrasse uma dessas obras de arte em algum lugar e alguém lhe dissesse que ninguém a fez, você acreditaria? Seria mais difícil acreditar nisso do que na inscrição na areia feita pelas ondas, não é mesmo? Ainda que eu não tivesse visto a dona Maria trabalhando nas garrafinhas, teria certeza de que aquela arte apurada só pode ser fruto de uma mente inteligente e de mãos habilidosas.

Nosso passeio terminou no alto de uma duna na Praia do Uruaú. Ali pudemos contemplar o pôr do sol, outra verdadeira obra de arte produzida não com areia, mas com raios solares, nuvens, gases atmosféricos e muito, muito bom gosto.

Quem criou os fótons, a atmosfera, a água, o vasto mar e nossos olhos capazes de admirar todas essas belezas? O mesmo artista que concedeu inteligência e habilidade aos silicografistas de Morro Branco.

Michelson Borges

Ponte dos Espiões: um retrato da Guerra Fria

ponteNasci no ano de 1972, em plena Guerra Fria. À medida que fui me entendendo como gente e compreendendo um pouco o mundo complexo que me rodeava, uma sensação de medo passou a tomar conta de mim. Na verdade, minha geração foi marcada por essa sensação, pois vivíamos sob a sombra ameaçadora de um cataclismo nuclear. As duas superpotências de então, Estados Unidos e União Soviética, estavam armadas até os dentes com ogivas nucleares capazes de destruir toda a vida na Terra. Filmes e documentários ajudavam a alimentar esse clima descrevendo os horrores de uma detonação nuclear. Com a idade de uns 12 anos, formei um grupo de estudos e nos reuníamos na biblioteca da escola para estudar livros e revistas sobre bombas nucleares, geopolítica mundial e… a Bíblia. Sim, nós queríamos saber o que nos reservava o futuro; se havia esperança para a humanidade. É claro que, sem ajuda e sem conhecimentos prévios de interpretação profética, chegamos a conclusões as mais absurdas. Mas queríamos, do fundo do coração, entender as profecias; encontrar segurança em algo. (Clique aqui para saber mais sobre essa história.)

Assistir ao ótimo filme Ponte dos Espiões foi, para mim, quase que uma viagem ao passado. Trata-se de uma produção bem feita, de um Steven Spielberg em boa forma e em uma temática que sempre o fascinou. A interpretação impecável do consagrado Tom Hanks ajuda e muito. O filme dispensa efeitos especiais e as cenas apelativas comuns em Hollywood, usadas para alavancar bilheterias. Assim, não se veem ali cenas de sensualismo, sexo nem violência. O filme não precisa desses “estimulantes” clássicos e cada vez mais utilizados. Não precisa de “pimenta”, pois o roteiro bem escrito, os diálogos precisos, o drama na medida certa e as boas interpretações seguram o interesse do começo ao fim. A família retratada no filme é tradicional, nos moldes bíblicos, eu diria, ou seja, um pai (homem), uma mãe (mulher) e filhos. E eles até oram antes das refeições.

Hanks interpreta o advogado James Donovan, da área de seguros, que se vê, de repente, envolvido em um problema complexo, ao ser escolhido para defender Rudolf Abel, um espião soviético capturado pelos norte-americanos. Donovan não tem experiência nesse tipo de caso, nem precisava ter, pois o governo dos Estados Unidos queria apenas manter a aparência de que mesmo os prisioneiros receberiam tratamento justo ali, com direito à defesa por meio de um advogado. O que ninguém esperava é que Donovan fosse levar a sério sua missão de tentar inocentar o homem. Indo contra a opinião e o ódio públicos e contra as expectativas das autoridades da nação, o advogado faz o possível para oferecer uma defesa adequada ao espião. Todos desejavam a cabeça de Rudolf, até que, ironicamente, um militar norte-americano foi capturado pelos russos. E Donovan, de simples advogado, torna-se negociante internacional, sendo enviado a Berlin com a missão de conseguir a troca dos prisioneiros.

É um filme que possibilita boas reflexões e discussões sobre honra, ética, humanidade e outros valores tão em falta em nossos dias. Baseada em fatos reais, a produção pode ser bem aproveitada, inclusive, por professores de História, quando forem abordar o tema da Guerra Fria. Ponte dos Espiões é bem didático e instrutivo, mesmo para quem não viveu sob a sombra da Guerra Fria.

Michelson Borges

Filhos: levar ou não levar, eis a questão

lisboaA maioria das nossas viagens são feitas em família. Nossas filhas são nossas companheiras de bordo desde sempre, e vou confessar: amo viajar assim, nós todos juntinhos. Claro que há viagens muito legais para se fazer a dois e eu e o esposo às vezes fazemos, mas não vejo inconveniente nenhum em fazer viagens com as crianças à tiracolo também. Tanto é assim, que este blog é de toda a família e todos deixam suas impressões por aqui. Bem, mas viajar com filhos dá trabalho? É cansativo? Respondo: viajar por si só dá trabalho; os filhos muitas vezes dão trabalho; ficar em casa dá trabalho; viver dá trabalho! Viajar é uma arte e traz muito prazer, porém, é bem cansativo programar. Mas não por isso vamos deixar de fazer. E embora dê trabalho, penso que os ganhos, tanto por se viajar, quanto por levar os filhos, valem muito a pena e superam as dificuldades.

Na nossa primeira viagem mais longa, que você pode conferir aqui, nossa filha mais velha estava com quatro anos e foi conosco nessa aventura de carro de mais de mil quilômetros. A mais nova, como nasceu em um momento em que viajávamos mais, fez sua primeira com dois meses (para Gramado, no RS), a segunda, mais longa, com três meses, de carro, para Foz do Iguaçu, numa viagem de aproximadamente 13 horas, e a primeira de avião com três anos, para a Argentina.

Algumas pessoas achavam que eu era louca em viajar com um bebê por aí. Louca seria se não viajasse! E vou te contar: há mais praticidade em se viajar com um bebê do que você pensa, mas darei mais detalhes e dicas de como viajar com os filhos em um próximo post, aguarde… [continue lendo]

O que fazer em Jerusalém em dois dias

jerusalemIsrael era um daqueles lugares que eu sonhava ir, mas imaginava que demoraria muito, porque não é um dos destinos mais baratos do mundo.

Até que meu marido super caçador de promoções encontrou passagens aéreas para 2014 por R$ 1.451,95 por pessoa, com taxas! Sim, eu falei REAIS e com todas as taxas incluídas neste preço!!! E tem mais: com stopover em Nova York!! Não sabes o que é stopover? Como a empresa aérea era a Delta Air Lines, ou seja, uma empresa americana, sairíamos do Rio de Janeiro, faríamos uma conexão breve em Atlanta, EUA, e depois em Nova York, para somente após embarcarmos para Tel Aviv, Israel. Assim, unimos o útil ao agradável e ao invés de uma simples conexão, dormimos duas noites em Nova York, aproveitando um pouquinho esta maravilhosa cidade. E tudo isso sem custo adicional nenhum. Esse tal de stopover é uma mão na roda, pois possibilita conhecer múltiplos lugares por um único preço. Leia mais sobre isso aqui.

Então, depois destes dois dias passeando por Nova York, embarcamos rumo à Tel Aviv. Chegando no aeroporto de Tel Aviv, pegamos o carro previamente alugado pela internet na locadora Europcar, e nos dirigimos até nosso hotel em Jerusalém. Até esse momento era preciso me beliscar, pois ainda não parecia verdade. Mas não é que era? Estávamos nós dirigindo pelas estradas de Israel e a sensação de ver a cidade antiga no alto de uma colina ao chegar em Jerusalém para encontrar nosso hotel foi indescritível.

E tem tanto lugar bonito por lá, tanta riqueza histórica e cultural, que resolvi dividir o post em dois. Primeiro vou escrever sobre o que fazer em Jerusalém em dois dias. [Continue lendo.]

Spotlight: os abusos que a Igreja quis esconder

spotlightO título do filme não poderia ser mais apropriado: “Spotlight: verdades reveladas.” Trata-se de uma história real e muito triste, mas bem conduzida pelo diretor Tom McCarthy (tanto que merecidamente ganhou o Oscar de melhor filme neste ano). Outra página negra na história da Igreja Católica é revelada pela equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, também conhecida como Spotlight. Para quem gosta de filmes de jornalismo, este é um dos bons. A equipe do Globe dá um verdadeiro show de reportagem: consulta muitas fontes, faz ampla pesquisa, ouve, desconfia, gasta sapato e revela muita coragem.

Geralmente, quando se trata de expor e punir “gente grande”, existe temor e a tendência é evitar o assunto. Isso fica claro no filme. Quando sabem que a reportagem da Spotlight vai revelar as entranhas de um comportamento criminoso mantido por muitos padres acobertados pelo arcebispo de Boston, as fontes geralmente ficam com receio – sentem vergonha de se expor, mas têm vontade de que seja feita justiça. Os próprios repórteres experimentam o peso do que estão prestes a revelar, mas vão em frente mesmo assim. O que acontece, depois, é mais um lembrete da relevância do jornalismo responsável e corajoso. De um jornalismo meio raro hoje em dia, mas que enche de orgulho aqueles que ainda acreditam na profissão.

Graças ao trabalho competente e persistente do pessoal do Globe, o drama de inúmeras vítimas (só em Boston foram mais de mil) de padres pedófilos foi revelado e, certamente, muitas vítimas em potencial foram protegidas. Quando ficou evidente que o arcebispo Bernard Law realmente acobertou muitos desses padres, ele renunciou em 2012 (mas ficamos sabendo no texto, no fim do filme, que ele acabou sendo “promovido” a um bom cargo em Roma).

Triste mesmo é acompanhar o depoimento de algumas vítimas desses padres. Via de regra, elas se viam envolvidas por alguém que, para elas, representava o próprio Deus. Mas, depois de abusadas, não apenas perdiam a dignidade, mas a própria fé.

Faço apenas uma ressalva: não seria bom assistir a esse filme com crianças muito pequenas, já que o testemunho de algumas vítimas é bastante explícito. Mas fica a advertência para que os pais e responsáveis ajudem seus pequenos a se prevenir neste mundo mau e a “quebrar o silêncio”, quando o assunto for abuso – exatamente como fez a Spotlight.

Michelson Borges

Os Escolhidos

escolhidosO livro Os Escolhidos nos ajuda na compreensão da Bíblia e da vontade de Deus. Ele detalha as histórias tão apaixonantes e importantes do Antigo Testamento. É um livro importante e ideal para adolescentes e jovens começarem a ter contato com os livros de Ellen White, pois ele contém conselhos valiosos do próprio Deus. E com a linguagem atualizada, o livro (também conhecido como Patriarcas a Profetas) ficou melhor ainda! A leitura é mais agradável e a compreensão, mais fácil. Isso sem contar a linda capa e a apresentação mais moderna.

Além de conter conselhos valiosos, a leitura de Os Escolhidos nos aproxima mais de Deus, já que podemos compreender melhor a mensagem dEle para nós e senti-Lo mais pertinho. Recomendo!

Giovanna Borges

Compre aqui, no site da CPB.

Meu free walking tour em Washington

IMG_8406Em 2014, tive o privilégio de fazer uma viagem cultural pelos Estados Unidos, de costa a costa (veja aqui o vídeo). Foram dias muito intensos e agradáveis, de grande aprendizado e inspiração, conhecendo principalmente lugares históricos e significativos para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Com o tempo, vou contando aqui algumas dessas experiências. Aprendi recentemente com minha sobrinha uma expressão nova: free walking tour, ou seja, um tour gratuito e a pé. Foi praticamente isso o que eu fiz em Washington, DC. Só não sabia que tinha esse nome (rsrs). A grande vantagem, em minha opinião, é que a pé você tem condições de curtir os detalhes da cidade. E como a capital norte-americana é um espetáculo arquitetônico, valeu muito a pena gastar os tênis por lá.

Nos free walking tour usuais, há guias e geralmente o tour é feito em grupos, mas eu fiz a caminhada sem guia e sozinho. Na verdade, eu estava com um grupo de amigos, mas, como fiquei encarregado de tirar as fotos, acabei ficando para trás, embevecido com a cidade e seus prédios sólidos, de tom amarronzado, lembrando imagens do Império Romano. Próximo ao famoso obelisco, vi barraquinhas onde se vendiam souvenires de todo tipo, especialmente camisetas, bonés, canecas e um de que eu gostei muito: uma reprodução em resina (ou algo assim) da Casa Branca, do Capitólio, do obelisco e outros monumentos, em miniatura. Uma lembrança muito bonita. Pensei: “Não sei quando (e se) voltarei aqui. Quer saber? Vou comprar.” Aí é que fiquei mesmo para trás, mas feliz com minha aquisição. Coloquei a maquete na mochila e segui em frente, tirando fotos e mais fotos.

Quando passei em frente à Casa Branca, confesso que tive uma pontinha de decepção. Ela é bem menor do que parece nas fotos e nos filmes, apesar de seus 50 quartos e várias salas. De qualquer forma, não deixa de ser emocionante e um pouco perturbador estar ali, em frente à sede do governo mais poderoso do mundo, guardada, evidentemente, por vários policiais armados e nem um pouco simpáticos.

A Casa Branca está localizada na Avenida Pensilvânia e o edifício foi construído entre 1792 e 1800. Ela vem sendo a residência executiva de todos os presidentes norte-americanos, desde John Adams. O projeto arquitetônico foi assinado pelo irlandês James Hoban.

Depois de tirar algumas fotos ali, continuei caminhando em direção ao Monumento a Washington, o famoso (e gigantesco) obelisco, no centro do Constitution Gardens. O monumento, construído entre 1848 e 1885, em homenagem a George Washington, tem quase 170 metros de altura e é a estrutura mais alta da cidade. É feito de mármore, granito e arenito, e chama atenção o fato de ter uma cor até certa altura e outra coloração dali até o topo. Depois entendi o porquê disso. Com o início da Guerra Civil Americana, os recursos para a construção tiveram que ser desviados para o campo de batalha. O prosseguimento das obras no obelisco teve que aguardar quatro décadas. Por isso o mármore difere em cor, nas duas partes. Parei para observar e tirar mais fotos e segui meu caminho.

O carro estava estacionada na Avenida Nova York. Havíamos combinado certa hora para nos encontrar todos lá junto ao carro, em frente a uma Starbucks Coffee. Era muita coisa para ver em pouco tempo. Mas foi suficiente para me apaixonar pela cidade, pela grandiosidade de suas construções, pela limpeza e pela organização.

Além do pouco tempo, lamentei muito outra coisa: não poder entrar no Museu de História Natural de Washington. Tive que me contentar com tirar uma foto nas escadarias em frente ao prédio.

Apesar do frio que fazia naquele dia ensolarado, eu estava suado e bastante cansado da longa e enérgica caminhada. Mas o free walking tour tinha valido a pena, e minha memória e o cartão da câmera ficaram cheios de boas recordações.

Michelson Borges